O Que Restou de Alexandra Oliva e como a negação influencia uma pessoa
O Que Restou foi o primeiro livro que li da parceria com a Rocco em 2018. A obra de Alexandra Oliva tinha uma premissa que muito me chamou a atenção: a de um grupo num reality show de sobrevivência ao mesmo tempo em que uma crise de níveis apocalípticos acontecia no resto do mundo. Afinal, como distinguir a realidade da ficção quando ninguém te avisa qual que é qual?
Você gosta de reality show de sobrevivência?
A narrativa começa sem muita enrolação: estamos ali no meio dos bastidores de um reality show de sobrevivência na floresta.
São 12 participantes ao todo, tendo seus limites testados. Você também vê como funciona, por parte dos produtores do programa, a manipulação de cortes e cenas, criando para cada participante uma “personalidade”, mesmo que não seja verdadeira.
Diferentemente dos realities que estamos acostumados, este tem um detalhe curioso: você só sai do programa se você desistir. E você não sabe quem desistiu ou não antes de você. Ou seja, mesmo que só tenha um participante, o programa só acabará quando ele desistir, sem avisá-lo em qualquer momento que na verdade ele já tinham ganho.
As provas, exatamente por conta dessa premissa, não são de teor eliminatório, apenas lhes permite ganhar algumas “regalias” que deixariam a sua sobrevivência mais fácil que a do outro.
A protagonista é Zoo, uma mulher que eles pretendem pregar como a mocinha extremamente inteligente e calculista. Temos também Mateiro, o que parece mais bem preparado que os outros, mas que tem uma personalidade mais reservada. Há a ‘Garçonete’, que é uma garota bonita, escolhida apenas para enfeitar os participantes; e ela vive brigando com o Exorcista, um cara meio estranho que diz ver espíritos e de fato trabalhar como exorcista.
Como você pode ver, os personagens são classificados muito por seus estereótipos. Há também o Medico Negro (é, pois é), Engenheiro, Banqueiro, Rancheiro, Garoto Cheerleader e Força Aérea.
E de histórias pós apocalípticas?
Com narrativa de capítulos alternados, O Que Restou logo se concentra em Zoo. É acompanhando a batalha dela para sobreviver que também começando a notar a mudança na história onde, por trás das câmeras, o mundo entra em crise. Os competidores se afastam, mas ela acredita que é tudo parte do jogo. Os câmeras e produtores também desaparecem. Ela fica muito doente, mas acredita que está tudo bem. Sem saber quanto tempo se passou, onde estava os outros e nem nada, ela continua naquilo que topou participar: sobreviver.
Eu não desisti porque eles não vieram; no meu delírio, eu sabia que meu estado não podia ser tão ruim assim porque estavam me permitindo continuar sozinha. Se eu tivesse em perigo eles viriam me ajudar – assim me convenci. E afinal de contas ninguém veio porque estavam todos mortos, ou morrendo, como eu estava. exceto pelo fato de eu não ter morrido e todos os outros sim.
o que restou
A história perde um pouco o ritmo neste ponto. Zoo estando isolada e sem contato com outros seres humanos, acaba que corta um pouco o fato ação da narrativa. Os capítulos passam a se alternar entre o que está acontecendo no momento com ela e seus desafios, motivações pessoais e traumas emocionais anteriores.
Em que momento um virou o outro?
O que te prende em O Que Restou é o constante questionamento de “em que ponto isso é apenas uma armação do jogo e quando começou a aparecer as verdadeiras consequências da misteriosa doença que erradicou tantos?”.
Eu me via, várias vezes, sem saber distinguir o que era armação e o que era real. A nossa protagonista, acreditando piamente que tudo continuava apenas como um jogo, não nos facilitava.
Narrado pela perspectiva de Zoo, você fica muito sem informações como “o que aconteceu”, “porque aconteceu” e “quando aconteceu”. A negação dela logo começa a soar muito inocente. Uma pessoa é realmente capaz de entrar num estado de negação tão profundo?
É difícil dizer, mas chegou num ponto da história que começou a parecer forçado.
Acredito que, para uma obra de estréia, Alexandra Oliva se saiu muito bem. Senti falta de uma trama mais intrincada e um desenvolvimento mais intenso, mas ela entregou o livro que tinha prometido e com uma premissa bastante original baseado num acontecimento bastante clichê na literatura (essa questão apocalíptica). Apesar de não ser uma grande obra, é uma obra divertida e que vale a pena ser lida.
Conheça mais sobre essa e outras distopias aqui embaixo, e se gostou, não deixe de comentar ou enviar para um amigue ♥