O que me fez decidir solicitar Carbono Alterado foi saber que a Netflix está adaptando a história. Em segundo lugar veio a sinopse, pois todo esse universo futurístico me atrai bastante.
A narrativa se passa no século XXV, onde a morte passa a ser apenas um incômodo e não algo definitivo. Agora a sua consciência pode ser armazenado em um cartucho na base do seu cérebro (Carbono Alterado) e baixado para um novo corpo quanto o antigo para de funcionar. Além disso, a Terra agora não é mais a única com humanos.
Na verdade, os humanos fizeram uma série de incursões espaciais e colonizaram vários planetas. Há também a sutil menção de vidas extra-terrestres, apesar de não figurarem na história.
Lá em cima, ficam os satélites de comunicação. Despejando uma chuva de dados. Dá pra ver em alguns mapas virtuais; é como se alguém tivesse tricotando um cachecol para o mundo. Irene que disse isso. Tricotando um cachecol pro mundo. Partes desse cachecol são pessoas. Gente rica digitalizada, em trânsito entre corpos. Novelos de memórias e sentimentos e pensamentos, empacotados em números.
Carbono alterado
Apesar de toda a criação de um universo, ou a imaginação de um futuro, essa obra não é sobre ele. Na verdade, é apenas um contexto para o que realmente acontece aqui: uma obra de ficção científica e ação cheia de conspirações e sangue.
Nosso protagonista é Takeshi Kovacs, um ex-militar de elite no Mundo de Harlan que estava preso – processo chamado de armazenamento, onde seu cartucho “vai para a prateleira”, pois bem mais barato ter um estoque do que sustentar uma prisão -, e que é transportado a Bay City, a antiga São Francisco na Terra, para solucionar o assassinato de um magnata.
Este magnata é Laurens Bancroft, um matusa – aquelas pessoas que podem bancar diversos “reemcapamentos” e por isso possuem centenas de anos de vida – e o contratante de Kovacs. O que acontece é que tudo indica que Bancroft explodiu a própria cabeça, apenas para 48h depois estar reemcapado sem a memória do crime cometido. E ele, claramente, não engole essa história de suicídio, mas é tão odiado em seu planeta que não pode recorrer a um investigador local.
Tome o que lhe for oferecido…
Carbono Alterado é classificado dentro do gênero de thriller noir. Com uma variação do gênero cinematográfico film noir que teve seu ápice na década de 30 à 50, com seus elementos policiais e investigativos, que se encontraram à elementos do gótico, da violência e da ficção científica.
Na minha infância, eu acreditava que havia uma pessoa essencial, um tipo de núcleo de personalidade ao redor do qual os fatores superficiais poderiam evoluir e mudar sem danificar a integridade de quem você é. Mais tarde, comecei a entender que isso era um erro de percepção causado pelas metáforas que eram usadas para emoldurar nossos eus. O que nós tínhamos pensado como sendo personalidade não era mais que a silhueta passageira de uma das ondas diante de mim. Ou, desacelerando para uma velocidade mais humana, o contorno de uma duna. Forma em reação a estímulo. Vento, gravidade, criação. Inclinações genéticas. Tudo sujeito a erosão e mudança. A única forma de vencer isso era ir para a prateleira para sempre.
Carbono Alterado
Dentre as principais características do gênero, podemos citar o protagonista moralmente ambíguo; personagens violentos ou corruptos; assassinato ou roubo como centro da história; obsessão sexual/romântica e também corrupção social ou humanitária inerente. “O film noir ficou conhecido por narrar dramas inteligentes e austeros permeados por niilismo, desconfiança, paranoia e cinismo, em ambientes realistas urbanos.” (Wikipedia)
Os ricos fazem essas coisas. Eles têm o poder e não veem motivos para não usá-lo. Homens e mulheres são só mercadorias, como tudo mais. Armazene-os, frete-os, decante-os. Assine aqui embaixo, por favor.
Carbono alterado
Sendo o romance de estréia de Richard Morgan, Carbono Alterado foi construído de maneira inteligentíssima. O que acarretou no prêmio Philip K. Dick Award de ficção científica em 2003.
… e isso às vezes tem que bastar.
Eu levei quase dois meses para ler Carbono Alterado. Meu mês de outubro foi marcado pelo início de vários livros e a não finalização de todos. Se eu consegui concluir a leitura eventualmente foi graças aos sprints que fiz ao longo dos dias.
Apesar de poder olhar nos seus olhos para dizer, com toda a certeza, o quão ótimo esse livro é, eu dormia lendo ele. Foram pouquíssimas vezes em que eu consegui pegar nele por mais de meia hora sem ficar exausta com a leitura. Mas assumo minha responsabilidade nesse processo.
O que o armazenamento de h.d. fez foi possibilitar que um ser humano fosse torturado até a morte e depois começasse tudo de novo. Com essa opção disponível, os interrogatórios baseados em hipnose e drogas foram jogados fora muito tempo antes. Era fácil demais fornecer o contra-condicionamento químico ou mental para aqueles que poderiam se deparar com esse tipo de coisa como um osso do ofício.
Carbono Alterado
Lembro de ter dito, lá na resenha de As Primeiras Quinze Vidas de Harry August, que alguns livros não foram feitos para serem lidos rapidamente. Acredito que isso se aplique a Carbono Alterado.
A partir do momento em que tivemos uma construção tão completa de mundo, a narrativa detalhada é fundamental. É muita explicação e longos parágrafos, seja para descrever um tipo de tecnologia, um cenário ou o pensamento moderno da época. Isso deixa a história lenta e cenas muito longas de ausência de acontecimento.
Em acréscimo a isso, reconheço que ainda estou em processo de amadurecimento e de me acostumar com esse estilo de narrativa. Este livro estava bastante fora da minha zona de conforto e senti essa dificuldade claramente durante o processo de leitura.
Outro ponto que me incomodou foi a questão da diagramação. Entendo que economizar no número de páginas e papel ajuda a diminuir o gasto de publicação. E entendo que Carbono Alterado é uma obra bem longa. Contudo, dessa vez a legibilidade ficou bastante prejudicada.
As margens do livro são pequenas, a letra e o espaçamento entre as linhas também são menores que o habitual. Juntando isso aos longos capítulos descritivos eu simplesmente ficava exausta e tive que ler a obra em doses homeopáticas.
Quando perguntarem como eu morri, diga a eles:
Carbono Alterado
ainda com raiva.
Relendo essa resenha 6 anos depois da leitura deste livro, enxergo claramente como me faltava bagagem para realmente aproveitar a obra que tive em mãos, mesmo gostando muito na época. Inclusive, apenas de reler o texto, senti uma enorme vontade de concluir a leitura da trilogia.
O livro um de Carbono Alterado está disponível no Kindle Unlimited. Para conhecer essas e outras histórias, dá uma olhadinha aqui embaixo:
Hanna Carolina
Olha, eu depois que li sua resenha de As primeiras 15 vidas de Harry August fui correndo baixar esse livro, pois fiquei muito interessada. E com esse vou também correndo baixar para ler, pois estou ficando cada vez mais apaixonada por esse gênero. Mas realmente eu nunca tinha ouvido falar em Thriller noir… kkkk Gostei do significado e vou até procurar mais livros desse tipo. =)
Bjks!
Mundinho da Hanna
Tatiane
♥
Olá Jade tudo bem?
Não conhecia esse livro e depois da sua resenha acho que não é o tipo de livro que eu leria.
Gosto de livros detalhados, mas depende muito do gênero. Se eu começar a ler um livro e ficar cansada por causa da escrita ou diagramação provavelmente eu nem termine 🙁
Mas eu adorei a capa e espero que a série seja boa.
ótimo sábado
bjo
Iza de Azevedo
Oi Jade, ta aí uma obra que não tinha ouvido falar ainda e esse gênero que você identificou nele o thriller noir também é algo novo para mim, pelas características citadas me lembrei de vários filmes nessa linha, mas livros, ainda não li nenhum com essa “pegada”. Como ele é um livro de leitura degustativa, acho que vou colocar na minha lista de “quem sabe um dia”, mas fiquei bastante interessada e fico feliz que a Netflix vai adaptar! 🙂
Vanessa
Fiquei curiosa com a história mas acho que nao teria energia de ler (talvez nem de assistir como série).
Estou numca fase da vida que busco leveza nas coisas e nao consigo levar a frente coisas mais pesadas e arrastadas…
Diovana Vargas
Não conhecia, mas a temática me agrada, adoro livros assim. Não tava sabendo que a Netflix vai adaptar o livro pra série, sou doida das séries, fiquei curiosa, vou pesquisar sobre, muito certo que verei.
É bem verdade isso de que nem todo livro foi feito pra ser lido rapidamente, durante minha vida de leitora também tive alguns livros que amei, mas que a digestão era um processo lento, era preciso ler aos poucos.
Enfim, adorei a resenha.
Ana Leticia
Olá, tudo bem? A trama tem um toque que adoro , ficção científica misturada com investigação. Sem falar de uma proposta de mundo bem diferente. Sobre o livro ser detalhado demais, de um tempo para cá comecei a dar valor a narrativas mais detalhadas, antes achava chato, porém agora estou preferindo-as, acho que por meio dos detalhes eu consiga me senti na trama, não sei explicar bem…. parabéns pela sua resenha. <3
César Rezende
Achei interessante a ideia do livro, além de ter um fraco por essa vibe noir, que geralmente resulta em histórias com um quê de escuridão que acho atraente! Também fiquei satisfeito em saber por ti que a Netflix vai adaptar, porque é obviamente uma ótima história, e tem de tudo pra ser a nova série-hit deles, então devo tentar também ler antes que saia!
Tary Belmont
São duas coisas que não são meu forte, essa pegada Noir, e Ficção Cientifica. Mas, achei o enredo bastante diferenciado e curioso, bem interessante mesmo. Com certeza vale ir para a lista de desejos.
Bites!
RUDYNALVA CORREIA SOARES
Jade!
Gosto muito desse estilo mais noir nos livros policiais e ficcionais, são mais clássicos e cheios de variantes.
E se tem trechos bem reais e até cruas, trechos de sexo e morte, me interessa ainda mais.
Como amo ficção, esse lance da mente ser transportada para outro corpo após a morte, é fascinante, pena as lembranças não irem junto.
Quanto ao nome, já que é ficção, deve ser algo a alteração da molécula de carbono, mas só saberei quado ler.
Gostei por demais.
E gostei também de saber que a Netfilx comprou os direitos para fazer filme.
Desejo uma semana carregadinho de luz e paz!
“ Inteligência não é não cometer erros, mas saber resolvê-los rapidamente.” (Bertolt Brecht)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!
Vickawaii
Eita! Eu adoro ficção científica e gosto muito de obras ~noir~, logo, adorei saber sobre esse livro. A premissa básica me lembrou aquele episódio do Black Mirror das duas meninas (não vou dar mais detalhes pra caso tu não tenha visto não pegar spoilers, mas se viu sabe do que eu to falando kkk). É uma pena que a leitura é meio demorada/não é fluída, normalmente livros assim eu leio em um piscar de olhos. Mas fiquei interessada, ótima resenha (: