Esse senso comum que livro clássico é difícil de ler precisa ser extinto. Há muito tempo cheguei a conclusão que os clássicos nada mais são que livros que impactaram as pessoas de uma maneira que venceu ao apagamento do tempo.
E, por conta disso, é claro que encontraremos reflexões e grandes questões que podem exigir um pouco mais do leitor do que uma leitura passiva para descanso.
Isso não tira seu mérito. Nem torna a obra difícil. Apenas te pede para ler com atenção.
Contudo Zafón me ensinou em tenra idade que “livros são como espelhos, neles só enxergamos o que possuímos dentro”. E muitas obras exigiram de mim preparo, maturidade e construção de bagagem. Por isso comecei a ativamente buscar os clássicos aos 28, quando me senti pronta.
Lendo Senhor das Moscas
Senhor das Moscas, por exemplo, pode ser para você uma obra sobre um grupo de crianças que ficam perdidas em uma ilha sem nenhum adulto por perto e isso as enlouquece; e também uma obra onde questiona onde está a linha que separa a natureza humana e suas convenções sociais. O que é inerente de um ser humano, pra além das coisas que nossa sociedade vem nos ensinando de geração a geração? E, a partir disso, o que é verdade e o que é um simulacro?
Questionamentos que venho explorando muito na terapia, nos diários e buscando em outras leituras também.
E nessa leitura, a consciência de que o livro me fez parar e pensar, acrescentou algo na minha vida (mesmo que apenas perguntas), já me valeu a leitura.
Não sei se era isso que era esperado da experiência, mas foi a minha.
Olhando objetivamente
Publicado pela primeira vez em 1954, o clássico do ganhador do Nobel, William Golding, possui várias interpretações por diversos estudiosos. Alguns o analisaram a partir das semelhanças com a filosofia de Arthur Schopenhauer, outros como uma alegoria da natureza humana.
A história começa com um grupo de crianças que sofrem um acidente de avião e ficam ilhadas sem nenhum adulto para guiá-las em seu processo de sobrevivência. Em um lugar isolado, sem quaisquer regras, uma nova sociedade surge, mas em aspectos… diferentes.
O que me leva novamente ao questionamento mencionado acima, qual é a verdadeira natureza humana?
“Você é um menino muito bobo.” disse o senhor das moscas. “Apenas um menino muito bobo e ignorante.”
Senhor das Moscas, William Golding, pág
Senti durante toda a leitura como se estivesse observando, de fora, uma espécie de experimento social, cujo objetivo era responder a pergunta: O que sobra da civilidade quando crianças, que ainda não foram totalmente “educadas”, não possuem adultos para restringir seu comportamento? Quais são os instintos básicos e inerentes de um ser humano em formação?
Há muita sutileza nos acontecimentos retratados na obra e foi interessante observar como os personagens lidaram com traumas e até a própria loucura sob suas óticas imaturas.
Da experiência de leitura
O ritmo é fluído, porém como é uma leitura mais de observação, pode se tornar um pouco enfadonha para longas jornadas. Li a obra simultaneamente com outro livro, de temática mais leve, que pegava sempre que me cansava.
Não considero isso um defeito para o livro, entendo que há textos que precisamos absorver aos poucos e nos consomem mais energiam porque exigem que estejamos 100% ali.
A edição que eu tenho é a da Editora Alfaguara, e acredito que foi a primeira vez que li algo dela. Não me lembro de ter notado qualquer erro de grafia ou tradução, mas me incomodou um pouco o tamanho da fonte e entrelinhas, que eventualmente me fazia me perder nas linhas da leitura.
Não deixe de me contar se você já leu esse livro, ou se tem uma lista de clássicos que gostaria de se aventurar no futuro. Conheça a categoria de resenhas para ler mais.