‘Meu amigo Dahmer’ e como a negligência social colabora no desenvolvimento de monstros
Quando coloquei as mãos no primeiro quadrinho da Darkside confesso que tremi na base. A expectativa era enorme. Eles tinham, na minha ideia, a obrigação de trazer algo muito além de qualquer editora brasileira até o momento. Bom, principalmente pelo preço de capa, cá entre nós.
A primeira lição que aprendi com Meu Amigo Dahmer é: não comprem livros em pré-venda. É sério. Compra não. Eles vão chegar semanas depois de qualquer jeito.
Hora que eu finalmente consegui colocar as mãos no quadrinho eu podia simplesmente ter adquirido Fragmentos do Horror do Junji Ito que é um autor que eu sou apaixonada (como vocês podem conferir na minha resenha de Uzumaki).
O perfil de um psicopata
A premissa do quadrinho é trazer o perfil do psicopata Jeff Dahmer quando ele ainda era um adolescente. O roteirista e ilustrador nada mais foi que seu colega de classe no ensino médio e juntou não só uma pesquisa detalhada, mas também lembranças de sua turma nos anos 1970.
Eternizado como o “canibal de Milwaukee”, Derf Backderf provavelmente compartilhou uma intimidade com Jeff que ele só foi ter novamente com suas vítimas. Juntos, ambos estudaram para provas, mataram aula e jogaram basquete.
Naquela noite lá em Ohio, naquela noite impulsiva. Desde então, nada foi normal. Esse tipo de coisa permanece pela vida inteira. Depois do que aconteceu, pensei que ia tentar viver da forma mais normal possível, deixar aquilo enterrado. Mas coisas assim não ficam debaixo da terra.
Meu amigo Dahmer
Seguindo rumos diferentes depois do colégio, Derf só voltou a ter notícias de Dahmer em 1991 quando seus crimes vieram à tona. Necrofilia, canibalismo e uma lista de pelo menos 17 mortos entre homens adultos e garotos. Além de Derf remexer em cadernos e álbuns de fotografia, ele consultou amigos de adolescência e professores. Documentos disponibilizados pela mídia e o FBI também ajudaram.
E onde a negligência entra nisso?
Imagine que você é um adolescente com uns desejos estranhos. A sua sexualidade é diferente, a sua família não se importa com você. E você vive nos anos 70, onde tudo é um tabu. Resultado? Você vira um jovem alcoólatra desesperado não para por algo pra fora, mas para manter dentro.
Meu Amigo Dahmer, como Derf apontou em vários pontos da narrativa não só nos conta a trajetória de um futuro serial killer, mas também sobre negligência. Jeff nunca teve um apoio, alguém que o escutasse ou prestasse atenção nele. Muito pelo contrário, no final da obra, onde são feitas várias notas sobre o quadrinho, é dito que os professores e adultos sempre se manifestavam dizendo que “não notavam nada de diferente no rapaz”.
Apesar da espessura, temos apenas umas duzentas páginas de quadrinhos. Talvez umas cinquenta de texto com algumas “ressalvas” e informações extras que não caberiam na narrativa.
Meu amigo Dahmer e sua edição da Darkside Books
Como foi a primeira impressão da Darkside no formato, acredito que eles fizeram uns testes e: erraram.
Primeiro na gramatura do papel que é grosso demais. Passei o processo de leitura inteiro angustiada com a impressão que estava passando duas páginas ao invés de uma. Todas as vezes. Segundo que a folha era um branco meio opaco, mas pouco porosa e como eu li duma vez só (em pouco mais de duas horas) acabei a leitura com dor de cabeça.
Precisei tomar remédio e ir dormir em seguida, principalmente na hora que fui ler o texto corrido. Folha branca é uma tortura, de verdade. Mas, em defesa da editora, eu já peguei e li o quadrinho do Junji Ito e essas questões editoriais não se repetiram. Vamos torcer que o que rolou com Meu Amigo Dahmer tenha sido um erro de lote.
De qualquer maneira, a premissa e a narrativa é um prato cheio para quem curte um bom perfil psicopata, com uma perspectiva um pouco diferente do convencional.
Atualização dezembro 2023: Escrevi essa resenha em 2017, e ainda não tinha desenvolvido minha opinião acerca de true crime. Gosto de thriller, gosto de terror e horror, mas desenvolvi a opinião e aprendi nos meus estudos sobre comportamento e comunicação que essa espetacularização de crimes reais é bastante nociva. Transformar criminosos em lendas… acaba estimulando novos crimes. Há dados e estudos sobre isso e, mesmo que eu não tenha me aprofundado o suficiente, me sinto mais confortável em me focar apenas nos casos fictícios.
Mayara Vieira
Achei esse livro bem diferentão, não sei se eu leria. Não faz muito meu estilo literário, rs. Mas gostei da resenha. Bjs
http://www.mayaravieira.com.br
Jade Amorim
Mayara VieiraMay, essa obra realmente é bastante de nicho, mas se perfil psicológico e biografias te agradarem é uma pedida excelente!
Yuri S
Só uma pergunta: é uma história real? Eu sou bem lerdo KKK De qualquer forma, amo a Darkside e fiquei bem animado quando vi que eles começaram a lançar quadrinhos (to querendo entrar nesse mundo). Louquíssimo pra ler Wythces, inclusive. Esse me pareceu interessante, mas acho que esse tipo de história me deixa meio desconfortável ahahaha
Curti muito as fotos, parabéns <3
Beijos, http://www.sextadimensao.com/
Jade Amorim
Yuri SYuri, tudo bem? É total real oficial hahahaha. O cara é o pior serial killer dos EUA depois do Jack o Estripador!
Eu comprei Wythces e to ansiosa esperando o meu chegar!
Talita Oliveira
Darkside só arrasa!! Concordo plenamente, que fotos lindas são essas?! ( é como um contive ao leitor!!!)
A ideia é genial e única, faz-nos conhecer as outras faces de uma personalidade tão forte e marcante.
Tomara que tenha sido apenas um erro, umas edição tão linda dessa, não pode decepcionar.
Wytches tá um sucesso danado, só tenho medo por ser mais macabro, kkk ( sou bem medrosa )
Resenha show, parabéns!
Jade Amorim
Talita OliveiraTalita, fico muito feliz que tenha gostado das fotos, é uma das minhas composições favoritas! Fico feliz que tenha gostado da resenha, realmente é uma ótima obra. Estou ansiosa para o meu Wytches chegar, está a caminho!
Marlene Conceição de Jesus
Oi.
Eu já tinha visto falar desse livro, mas confesso que ele iniciantemente não me chamou a a tenção não, porém tenho que reconhecer que ele tem uma premissa para lá de interessante, o fato que ele nos faz refletir sobre um assunto tão triste é ainda mais interessante, mas é essencial prestarmos a tenção nas pessoas que estão a nossa volta, por que os sinais de uma mente doentia estão lá e infelizmente na maioria das vezes não vemos, eu quero muito ler, é uma pena que a edição te incomodou, mas infelizmente acontece.
Bjs.
Jade Amorim
Marlene Conceição de JesusMarlene, tudo bem? Essa obra realmente é bastante diferente do que as pessoas estão habituadas, apesar de ser exatamente o tipo que eu gosto. Espero que tenha a oportunidade de lê-la. 😀
Luíza Fried
A história é interessante mas por ser em quadrinhos não me interessei, não tenho tanto hábito desse tipo de leitura. Que pena que a Darkside errou com esse tipo de lançamento, geralmente sou apaixonada pelos livros deles… quem não né?
Jade Amorim
Luíza FriedDeveria começar, Luíza, a narrativa ilustrada é incrível e completa, como qualquer outra. 🙂
Marta Izabel
Oi, Jade!!
Essa história sem dúvida deve ser interessante!!! Gostei da ideia da editora Darkside investir em estórias em quadrinhos tanto que comprei recentemente Witches.
Bjoss
Jade Amorim
Marta IzabelMarta, eu também estou amando, só meu bolso que está sofrendo, porque eu quero todos! hahahahaha