
Imagem por Harumi Hironaka.
Me peguei consolando meu melhor amigo esses dias porque ele dizia que se sentia péssimo sendo a “pessoa horrível” que ele era. Então parei para me questionar o que é ser uma pessoa horrível.
Dado o contexto da conversa, nesse caso ser uma pessoa horrível era ser aquele tipo de pessoa que se importa mais consigo mesma que com os outros. E pessoas assim são chamadas de horríveis porque terceiros não conseguem suportar a ideia de que você seja mais importante para si mesmo que elas.
Eu sou uma pessoa horrível. E pior, eu sou uma das melhores pessoas horríveis que eu conheço. E eu não vou me importar de ser chamada de horrível enquanto horrível significar ser diferente desse bando de mesquinhos que acha que as pessoas devem girar em torno delas e não conseguem respeitar a individualidade de cada um.
A meu ver, ser uma pessoa horrível é bom, porque você é consciente de si mesmo e de como as coisas funcionam. Você sabe que não deve nada para ninguém do mesmo jeito que ninguém te deve nada, e você está ok com isso. Você vive pra você porque você sabe que no final das contas, quem dorme contigo toda noite, quem te olha nos olhos no reflexo do espelho e quem vai contigo pro túmulo é você.
Essas “pessoas boas” são obcecadas pela ideia de “dividir”. Dividir uma vida, dividir momentos, dividir sentimentos, dividir os problemas, dividir conhecimento. Eu gosto de pessoas para somar e compartilhar, ter além de mim mesma e da minha vida ter alguém que some momentos, some sentimentos, some soluções e conhecimento. Não quero alguém pra dividir comigo o peso da vida, quero alguém pra compartilhar comigo a força pra enfrentá-la.
É inclusive, por conta disso, que tenho esse hábito questionável de desaparecer, de ficar quieta, de não interagir. Eu só falo quando acredito ter algo pra compartilhar ou acrescentar, só apareço quando eu tenho algo pra mostrar.
Eu não vou dividir nada, eu não vou abrir mão de mim mesma pelos outros, apenas abrirei mão de algo por outrem se a satisfação dessa pessoa for maior que o meu incômodo de fazê-lo. Mas note que isso é uma gentileza, não uma obrigação. Nunca será.
Claro que, infelizmente é mais difícil ser assim do que deveria. Não fomos criados pra isso, sabe? Fomos criados num conceito de comunidade, não individualidade. E ser uma pessoa horrível requer algum esforço, e ainda se submete a alguns erros que buscamos corrigir ao longo do caminho.
Então, se você assim como meu amigo acha horrível ser uma pessoa horrível, pare de sofrer porque acha que tem que se encaixar em algum lugar. Quando alguém te chamar de esquisito, maldoso, frio, sem coração e toda a sorte de adjetivos que criaram para falar sobre isso, faz que nem eu e responde: “Obrigado, eu me esforço muito.”
Vanessa
“tenho esse hábito questionável de desaparecer, de ficar quieta, de não interagir. “, parece que fui eu que escrevi. Eu tenho essa coisa de me bastar, de estar feliz comigo mesma, de apreciar momentos sozinha… Eu nao tenho essa necessidade incontrolável de pertencer a uma comunidade. Mas a maioria das pessoas nao entende.
Jade Amorim
VanessaRealmente, as pessoas não entendem. Eles não parecem entender que estar sozinho não é a mesma coisa que ser sozinho e que sermos completos e nos bastarmos não significa que não queremos outras pessoas, às vezes. É apenas que não precisamos e, principalmente, não somos obrigadas. Beijos.
RUDYNALVA CORREIA SOARES
Jade!
Acredito que o conceito de ser horrível é bem questionável.
precisamos definir primeiro aqui o que é egoísmo e o que é egocentrismo.
Você querer ser feliz a sua maneira, pensar primeiro em você é uma coisa, porém não se importar com aqueles que estão ao seu lado ou quem a ama de alguma forma, são duas coisas totalmente diferentes…
Concordo com o conceito de sermos felizes com aquilo que nos satisfaz, mas que certo, porém, temos de ver se isso não machuca ou ofende outra pessoa, porque aí, não sei se a felicidade vem de forma completa…
Não critico você ou seu amigo, afinal a vida é tão dinâmica, os tempos são tão atuais e tudo é tão rápido, que cada um tem o direito de ser como é, apenas penso um pouco diferente de vocês, talvez por ser dos meados do século passado, talvez pelas experiências que já tive na vida… Procure ser feliz, satisfazendo a mim mesma com toda certeza, mas tenho a preocupação com o outrem também…
cheirinhos
Rudy
Jade Amorim
RUDYNALVA CORREIA SOARESOlá Rudy, concordo completamente com o que você disse em seu comentário, tanto que foi isso que falei em meu post. Mas é importante que todos tenham em mente que fazer pelo outro não é uma obrigação, mas uma gentileza, pensar no outro é uma gentileza, um ato de uma boa índole e um bom caráter. Ninguém é obrigado e não deve ser cobrado por isso, pois as pessoas não tem a obrigação de nos servir. Beijos.
Marlene Conceição de Jesus
OI Jade.
Eu adorei sua reflexão.
Eu também sou uma dessas pessoas, em primeiro lugar vem eu e depois os outros, eu gosto de pessoas que entram em minha vida para acrescentar e não para ficar se fazendo de ritma querendo ser o centro das atenções, eu não consigo ser esse tipo de pessoa e sinceramente não me importo com o que falam, eu não estou aqui para agradar ninguém não mudarei por u simples capricho.
Bjs.
Jade Amorim
Marlene Conceição de JesusMarlene, é exatamente isso. É de extrema importância que saibamos nos valorizar e que nós somos as pessoas mais importantes de nossas vidas e que quem vier é pra acrescentar, não nos tirar pedaço ou saturar. 😀
Franciele Débora
Que belíssimo texto!
Me vi neste texto, também sou assim: esqueço de mim e sempre estou ajudando os outros (não é atoa que estou estudando Enfermagem ♥)
Eu sou feliz assim, me satisfaço assim e não ligo para que os outros pensam!
Sou assim e pronto.
Beijos.
Jade Amorim
Franciele DéboraFran, fico feliz que você seja feliz e se satisfaça dessa maneira. Não acho que eu seja exatamente dessa maneira, mas acredito que devemos ser sempre honestos com a gente e acreditar que o que nos faz feliz é o que mais importa. E isso é o principal. 🙂
Luíza Fried
Oi Jade, tudo bem?
O texto é muito bonito, me fez refletir um pouco sobre o meu modo de agir e pensar. Eu não sou assim tão segura e apaixonada por mim mesma, não sou aquela pessoa que ama a própria companhia, sabe? Mas gostei e entendi a diferença entre dividir e somar. Somar é muito mais saudável, se amar em primeiro lugar então nem se fala. Na prática pode ser um pouco complicado de praticar algumas dessas coisas mas certamente é o que nos faria melhor!
Jade Amorim
Luíza FriedLuíza, eu também não sou a pessoa mais apaixonada do mundo por mim mesma, viu? É sério! Tem dias e dias e é um esforço diário. Como você disse no seu comentário, é mais difícil na prática, mas a gente tá aí pra tentar e todo dia se esforçar pra ser melhor que ontem. ♥