Não é segredo para ninguém que os mangás conquistaram o mundo. Os quadrinhos japoneses atravessaram barreiras culturais nas últimas décadas de modo que seus personagens se tornaram ícones pop. Não há livraria de respeito que não dedique algum espaço a eles. Mas como os mangás são publicados no Japão?
Como surge uma nova série

Um exemplar da revista Shonen Jump, com a série My Hero Academia na capa.
Você já deve ter ouvido falar (ou não) da revista Shonen Jump. Ela é uma antologia na qual, semanalmente, é publicado um capítulo de aproximadamente vinte mangás. Existem diversas outras antologias semanais, como a Shonen Sunday (onde saem The Seven Deadly Sins e Magi, mangás bastantes populares no Brasil) e a Shonen Magazine (lar de Fairy Tail e Love Hina); além de diversas outras que seguem periodicidades mensais, bimestrais, etc.
Qualquer revista de mangá possui diversos editores trabalhando nela. Esses editores servem de intermediários entre os autores e a revista. Dessa forma, qualquer autor que deseja publicar na revista deve procurar um desses editores para conseguir o trabalho.
Um editor pode estar tratando ao mesmo tempo com diversos autores, tanto entre os que já estão escrevendo alguma obra para a revista quanto entre aqueles que ainda estão tentando encaixar alguma obra lá. E, é claro, que os autores que não estão publicando precisam mostrar serviço, e por isso eles estão constantemente escrevendo histórias de um capítulo (os chamados “one-shots”). Essas histórias podem acabar sendo publicadas na revistas para medir o interesse do público.
Esse interesse é medido através do cartão de pesquisa. Cada edição dessas revistas publicadas no Japão vem com um cartão que pode ser preenchido pelo leitor para indicar o que ele mais gostou (ou menos gostou) de ler naquela edição, além de fazer comentários diversos. Esses cartões são enviados para a redação da revista por correio e são usados para saber o que está dando certo e o que não está. E isso incluiu, é claro, os one-shots dos autores que não estão na grade fixa da revista.

Cartões como este vem como encarte em qualquer revista de mangás, e devem ser preenchidos com os leitores de acordo com seus gostos
Um one-shot que seja bem-recebido pode entrar em forma de série na grade da antologia na qual foi publicado, sofrendo ou não modificações de acordo com o feedback dos leitores ou com as idéias dos editores. Naruto, por exemplo, começou como um one-shot, e originalmente nem tinha ninjas na história!
Seu autor, Masashi Kishimoto, fez diversas alterações entre o one-shot e a história que foi publicada na Shonen Jump durante anos. Uma delas foi a criação do famoso personagem Sasuke, que ocorreu porque seu editor achava que o protagonista da história precisava de um rival.
Também pode acontecer de uma nova série de mangá começar a ser publicada numa revista sem ser antes publicada no formato de one-shot, em casos em que o autor consiga agradar a redação da revista o suficiente sem antes passar pela opinião dos leitores.
O índice da revista
Uma vez que uma história comece a ser publicada na revista, ela passa a fazer parte de uma disputa feroz. Afinal, algumas histórias precisam sair da revista para dar espaço para novas histórias. Naturalmente nenhum autor deseja ser aquele que vai ter sua história cancelada.

O índice da revista Shonen Jump. Grosso modo, a posição de cada mangá reflete sua popularidade.
Mais uma vez, os cartões de pesquisa são extremamente importantes. É através deles que os editores sabem quais séries estão no gosto dos leitores e quais não estão agradando. Isso se reflete de forma imediata no índice da revista (comumente chamada de “ToC”, do inglês “Table of Contents”): os mangás que aparecem primeiro na revista são os mais populares da última apuração dos cartões de resposta, e aqueles que estão no final da revista são os que não se saíram bem.
Em geral, a posição dos mangás em suas antologias semanais reflete as opiniões de oito semanas anteriores. Ou seja, o capítulo cujo número é igual ao último subtraído de oito. Obviamente, antologias com outras periodicidades seguem essas regras diferentemente.
De modo geral, um mangá que fica entre os piores avaliados da revista por muitas semanas consecutivas é cancelado. Mas há outros fatores envolvidos. Um mangá pode não ser cancelado imediatamente quando tem um anime de sucesso sendo exibido, por exemplo. Um anime normalmente implica numa série de produtos licenciados reforçando o orçamento da editora. Também pode ser que um mangá não seja do tipo que vai bem nas enquetes com os leitores, mas venda bastante encadernados. E é desses encadernados que vamos falar agora.
Mangás em volumes

Um volume de mangá, tal como chega nas livrarias.
Quando uma determinada quantidade de capítulos de um mangá é acumulada (normalmente oito no caso de mangás semanais e quatro no caso no caso de mangás mensais), eles são compilados em encadernados. O formato mais comum de encadernado são chamados de tankobon. Mangás de sucesso ou que tenham acabado há algum tempo podem ser publicados em outros formatos também.
O tankobon também é o formato mais comumente exportado. Numa banca brasileira qualquer, os mangás que você encontra, salvo aqueles que estão saindo em formatos especiais, são equivalentes aos tankobon japoneses.
Depois de conseguir entrar na grade da revista e sobreviver às enquetes de popularidade, a publicação em volumes é a parte final de cada mangá. As vendas de cada volume pesam na hora de a redação da revista decidir quais histórias vão continuar sendo publicadas e quais devem ser interrompidas. E esses volumes serão a cara do mangá quando (ou melhor dizendo, se) ele vier a ser publicado fora do Japão.
Carol
Nossa massa demais o artigo, recomendo muito.
curti muito bem feito e facil de entender, valeu
Jade Amorim
CarolQue bom que gostou, Carol. 🙂