
Foto cedida pelo instagram @livrosdemalu
Poucos livros eu li causar tanta discórdia quanto Caixa de Pássaros. Participo de diversos grupos de leitores e, apesar do sucesso, o descontentamento com o desfecho da obra é quase que absoluto. Na grande maioria das vezes sou uma das únicas pessoas a defender a genialidade de Josh Malerman na construção de sua narrativa.
E é exatamente pelo fato de que, mesmo tendo lido-o quase quatro meses atrás, estou vindo hoje fazer essa resenha. É para argumentar em defesa desse livro, com uma técnica incrível e muito pouco compreendida por leitores que ficaram preguiçosos.
Calma, eu explico. Mas já aviso que o texto abaixo pode conter alguns spoilers leves. Não da história em si, mas do universo e contexto da coisa toda.
É que a história de Caixa de Pássaros, um livro de horror e suspense, se passa num mundo que enlouqueceu. Basta você dar uma olhadinha que será desencadeado um impulso violento que terminará em suicídio. Olhada no quê? Ninguém sabe, só se sabe que ninguém é imune.
[citacao fonte=”Caixa de Pássaros”]Num mundo onde não podemos abrir os olhos, uma venda não é tudo que temos para nos defender?[/citacao]
Cinco anos depois desse surto ter começado, poucos sobreviventes sobraram. Não há mais internet, luz, água encanada e comunicação fácil. Entre esses sobreviventes está nossa protagonista, Malorie, e seus dois filhos pequenos.
O sonho dela é encontrar um lugar seguro para ela e as crianças, contudo, essa é uma decisão muito arriscada. Sem que nenhum deles possam abrir os olhos, percorrer grandes distâncias é um grande desafio. Principalmente porque mesmo que a ameaça que ocasionou esse surto esteja ali, ela não é a única. E muitas das outras, como a natureza retomando seu lugar de direito no mundo, é muito difícil se defender de olhos fechados.
Sempre supus que o fim viria da nossa própria estupidez

Foto cedida pelo ig @berco.literario
Caixa de Pássaros faz parte da seleta lista de livros que eu posso dizer que sentei, comecei a ler, e fui incapaz de largar. É um daqueles livros que te arranca de toda e qualquer obrigação (e fôlego) que você tenha até virar a última página.
E quando digo que defendo ferrenhamente a genialidade de Malerman quanto à sua escolha de narrativa, é pela construção do desespero. Horror e suspense são meus gêneros favoritos, mas faz muito tempo que um livro não conseguia me assustar ou me apreender. E isso se dá simplesmente pelo fato de excesso de informação.
Em Caixa de Pássaros você como leitor sabe exatamente o que a protagonista sabe. A narrativa, em primeira pessoa, não te permite em qualquer momento ter qualquer informação que vá além do que Malorie conhece. Você sente a mesma impotência, o mesmo desespero, o mesmo medo pelo desconhecido.
Malorie, desde o começo do surto, nunca abriu os olhos. Ninguém que tenha aberto, sobreviveu o suficiente para contar o que era. Ela não sabe. Você não vai saber. Frustrante, não?
[citacao fonte=”Caixa de Pássaros”]Seja o que for as nossas mentes não consegue entender. Pelo o que parece, as criaturas são como o infinito, algo complexo demais para nossas cabeças.[/citacao]
Você não sentiria o mesmo desespero se soubesse. É por isso que é genial.
Sendo talvez um pouco audaciosa e talvez indo um pouco longe demais, Caixa de Pássaros de um jeito completamente diferente mas totalmente igual, nos promove a mesma frustração de ler Dom Casmurro e, ao fim da leitura, não saber se Capitu traiu ou não traiu Bentinho.
Essa é a perspectiva do que chamamos do narrador-personagem, e assim como na vida, nem sempre temos a resposta para tudo. Para ser bem honesta, queria ter resposta pelo menos para metade. Ninguém pode acusar um livro de ser ruim por ele não te dar todas as respostas quando ele te deu todas as respostas que aquele ponto de vista, o do narrador, tinha.
Se você não curte esse tipo de narrativa, busque descobrir se um livro é narrado em primeira pessoa ou não antes de adquiri-lo. Acredito ser bastante desonesto com a obra, acusá-la de ruim por ter se tornado preguiçoso pelo narrador onipresente que te entrega todas as respostas de bandeja.
Agora, se como, leitor, ainda não teve contato com essa obra: leia. É uma experiência incrível.
[ficharesenha]

Foto cedida pelo instagram @leiture.se
Nath
Eu sempre quis ler esse livro!
Adorei a resenha 🙂
Beijos!
Jade Amorim
NathEsse livro é maravilhoso, Nath. Recomendo a leitura para qualquer um que goste de um suspense bem construído.