Foi em meados da década de 50 e que o nerd surgiu como um jovem inicialmente conhecido pelo estereótipo da inteligência acima da média, aparência franzina e inadequação social.
Com a origem imprecisa do termo, a mais difundida acaba sendo uma versão da década de 1950, em que certos membros de uma empresa canadense chamada Northern Electric Research and Development, conhecida pela abreviação N.E.R.D., eram poucos sociáveis e que não faziam outra coisa senão trabalhar dia e noite em suas pesquisas. Para Pereira (2008, apud SILVA, 2014, p. 4), “o nome do tal laboratório passou a ser sinônimo daqueles jovens branquelos de óculos espessos, vidrados num computador e pouco afeitos ao ar livre”.
Há também a versão que diz que o termo foi retirado de um livro, lançado na mesma época, do autor Dr. Seuss, chamado If I ran the Zoo (Se eu dirigisse o Zoológico, em tradução livre) onde a palavra nerd era usada para se referir a um animal esquisito que tinha no local. E, por fim, a terceira hipótese diz que o termo surgiu no campus do MIT (Massachussets Institute of Tecnology [Instituto de Tecnologia de Massachussets]), entre os estudantes que apelidavam de maneira pejorativa os acadêmicos que preferiam passar suas noites estudando ao invés de ir para as festas de fraternidade de “knurd” (se pronuncia nûrd) – inverso de “drunk” (bêbado) (CABRAL; MOTA, 2010).
Já no Brasil, um termo que poderia corresponder como sinônimo de nerd é CDF, equivalente a cabeça de ferro (MATOS, 2011). Porém, apesar dos nerds estarem recuperando sua autoestima e se livrando do estigma de jovens esquisitos e tímidos, o adjetivo CDF ainda carrega muito mais a visão negativa e antiga do termo do que a atual configuração do que ser nerd representa.
Apesar de suas dificuldades de relacionamento com pessoas estranhas, os nerds possuem alta afinidade e desenvoltura com membros de seu próprio grupo. O caráter antissocial ligado a eles é levemente quebrado ao mudarmos o ponto de observação de fora para dentro desta tribo urbana (SILVA, 2014, p.6).
O desenvolvimento das tecnologias de informação se mostrou fundamental para que a tribo urbana dos nerds se desenvolvesse. Curiosos, foram os mais dedicados em desbravar as possibilidades da Internet e poucas outras tribos urbanas tiveram sua essência tão intrinsecamente ligada à cibercultura quanto esta. “Na Sociedade da Informação, onde o conhecimento é uma mercadoria de valor, os nerds passaram a ser um grupo com elevado acúmulo de informações e, portanto, poder” (SILVA, 2014, p. 7).
Para Pierre Levy (1997, p. 15), “a cibercultura expressa o surgimento de um novo universal, diferente das formas culturais que vieram antes dele no sentido que ele se constrói sobre a indeterminação de um sentido global qualquer”, e foi sobre esse ‘universo’ cheio de possibilidades que a tribo urbana dos nerds construiu sua identidade.
Assim, os nerds passaram a ter mais confiança da sua identidade e passaram não só a assumi-la publicamente, como também serem melhores aceitos pela sociedade e posicionar-se contra preconceitos, atraindo cada vez mais membros para sua tribo.
Um exemplo da autoestima restaurada desta tribo urbana é a criação do Dia do Orgulho Nerd, comemorado anualmente no dia 25 de maio. A data, também conhecida como Dia do Orgulho Geek, teve origem no ano de 2006, na Espanha, e é uma iniciativa que advoga o direito de toda pessoa ser um nerd ou geek. O dia de sua celebração foi escolhido em homenagem à première do primeiro filme da série Star Wars, em 1977, uma das obras mais reverenciadas do universo. Além disso, na mesma data também é comemorado o Dia da Toalha, homenagem à obra O Guia do Mochileiro das Galáxias, escrita por Douglas Adams, outra referência cultural importante para a tribo urbana (SILVA, 2014, p. 8).
Com a mudança, o estereótipo de nerd deixou de ser considerado aquele jovem esquisito que sofre bullying na escola, mas um protagonista engraçado, inteligente e até mesmo um super-herói. Basta dar uma olhada mais atenta ao número crescente de programas de TV que reforçam esse novo estereótipo, como o recente caso da série norte americana The Flash, cujo protagonista é o clássico nerd atrapalhado, franzino de óculos e com pouca aptidão social.
O texto acima é um trecho do suporte teórico usado para a criação do meu Trabalho de Conclusão de Curso, no curso de Comunicação Social – Habilitação em jornalismo da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), no primeiro semestre letivo de 2016. Parte do trabalho consistia em discutir e definir o termo nerd, seu desenvolvimento e importância na sociedade.
Como é um trecho informal e leve, achei que seria interessante publicar aqui no blog. Há também um outro trecho desse mesmo suporte que discorre sobre os tipos de nerd, que eu não coloquei porque achei que ficaria muito longo. Caso se interessem, eu posso publicar qualquer dia desses.
As respectivas referências bibliográficas estão linkadas.
Dora
Eu amei esse post <3 ficou super fácil de ler, e eu não fazia ideia de onde vinham os termos "nerd" ou "CDF" [nem sabia o que significava CDF]. A gente se habitua a escutar essas palavras desde criança e acabamos absorvendo elas, muitas vezes de um modo ruim. Mas com o passar dos [meus] anos, eu parei de achar que "nerd" é algo pejorativo. Quando me chamam de nerd [por eu gostar de estudar idiomas, por exemplo], eu respondo "obrigada, sou mesmo" XD
Parabéns pelo post!
Jade Amorim
DoraDora, sou totalmente igual. Sempre que alguém me chama de nerd eu agradeço, porque pra mim é elogio! xD
Vy
No meu tempo CDF era c* de ferro mesmo! De ficar sentado estudando muito =P Nerd é bem mais leve e abrange outros conhecimentos que não acadêmicos. Tipo que eu era mais CDF na escola mesmo e só fiquei mais nerd com o tempo e a maturidade. E “nerd is the new sexy”, agora é bacaninha se “assumir”.
Jade Amorim
VyOi Vy! Então, CDF na verdade sempre foi “cabeça de ferro”, o que acontece é que não era ofensivo o suficiente e acharam essa nova “versão” para humilhar aqueles nerds que os valentões sabiam que não iam se defender.
Infelizmente agora é bacaninha se assumir, e tem muita gente por aí se achando O nerd só porque assiste The Big Bang Theory, ainda bem que não é assim que acontece! rs
Juliana
Eu amei esse post <3 (2)
Eu adoro quando os nerds dizem com orgulho que são nerds. Acho que eu, mesmo quando lá nos anos de infância e adolescência, era "xingada" de nerd, eu acabava nem achando tão ruim… Eu odiava o bullying, mas no fundo, quando eu pensava que ser nerd era gostar de ler, de estudar e de conhecer mais sobre as coisas que me interessavam, com o tempero de uma vida social bem pouco movimentada, eu sabia que eu era mesmo e não me importava com o rótulo. E hoje, estamos na moda! ahahaha viva os nerds! 😉
p.s.: gostei tão pouco do seu post que fiquei com vontade de escrever sobre o assunto também! Bjs.
Jade Amorim
JulianaEntão Juliana, engraçado como tem gente que ainda acha que nerd é ofensivo. Eu acho na verdade uma grande qualidade. Significa que a pessoa é inteligente, dedicada, interessada e atenta às novidades. Porque isso seria ruim, não?
Ser nerd é motivo de orgulho, isso sim! 😉
Beijos.
Lethycia Santos Dias
Adorei ler esse texto! Eu não fazia ideia de onde tinha surgido o termo, é como se o estereótipo “sempre tivesse existido”, desde quando criaram os filmes americanos com temática adolescente/estudantil. Gostei de ter encontrado um texto com referências bibliográficas em um blog. É difícil encontrar na Blogosfera quem informe suas fontes de pesquisa.
Apesar de a mídia estar retratando os nerds de outra forma, acho que no senso comum ainda continua sendo bem pejorativo, sabe? As pessoas falavam muito isso de mim na escola, porque eu gostava de estudar e tirava notas boas. Eu não gostava de ouvir, porque quem dizia isso geralmente não sabia nada sobre mim além disso…
Jade Amorim
Lethycia Santos DiasBom, eles com certeza são bem mais velhos que eu e você né? rs E eu acho que referência bibliográfica é sempre importante, mas no caso só fiz desse jeito mesmo porque é parte de um trabalho acadêmico, mesmo que seja um trecho publicado no blog. Era muito pejorativo dez, cinco anos atrás. Essa mudança brusca para o “bom” é muito recente, coisa de 4 ou 3 anos pra cá. Que bom que gostou.