Setembro é o mês da campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. De repente, as minhas redes sociais foram inundadas de postagens sobre o Setembro Amarelo, tanto de divulgação quanto de gente se disponibilizando a escutar os problemas de quem quer que estivesse precisando, ou até mesmo de gente reclamando e problematizando quem queria ajudar.
Mas sabe de quem eu não vi sequer um comentário sobre o assunto? O foco de toda a campanha. Toda uma sociedade anônima que sofre de depressão e constantemente planeja tirar a própria vida. Então eu resolvi vir aqui lhes dar um pouco do outro lado da história.
Para contextualizar, lido com a depressão e a ansiedade a muito tempo, caso agravado pela universidade e a vida sozinha na cidade grande. Já tive meu rompante, e confesso que considerei desistir de tudo seriamente mais de uma vez esse ano. Tenho minha psicóloga, meu psiquiatra e meus remédios.
Num primeiro momento, achei um gesto bonito esse de as pessoas se disponibilizarem a escutar o problema das outras, pensei “nossa, que legal, se precisarem terão alguém para ouvi-los”, mas aí eu pensei melhor e me coloquei nos meus próprios sapatos de uma pessoa que sofre de depressão e me senti menosprezada, subestimada.
Em outras palavras, essas pessoas estão dizendo que nossos problemas são tão mínimos que eles, sem qualquer treinamento, qualquer intimidade, qualquer conhecimento, podem vir aconselhar e tentar resolver.
Você quer ajudar? Divulgue a campanha. Deixe bem claro que você não faz parte daquela parcela que julga doenças mentais e emocionais como coisa de gente fresca, e se você ver alguém fazendo isso, briga com ele, mude a cabeça dele, porque é ele que nos cala e geralmente estamos cansados demais para comprar essa briga.
Algum amigo seu está passando por isso e te pediu auxílio? Ofereça-lhe companhia e um abraço. Deixe os conselhos pra quem realmente sabe o que está falando. Leve-o a primeira consulta ao psicólogo. E ao psiquiatra caso necessário.
Pode parecer bobo, mas às vezes ficamos num estado que o simples fato de ir procurar ajuda nos enche de medo. Mesmo que seja aquele médico que foi treinado pra nos atender, a gente fica apavorado achando que ele vai, de alguma forma, nos julgar.
Mesmo medicando, tem dias que simplesmente faltamos consultas porque temos medo de enfrentar o que nos espera. Ir a uma consulta é enfrentar nossos demônios e nem todos os dias temos a força necessária.
Para alguns, a campanha estar trazendo tanto foco para o assunto acaba sendo apenas dezenas de gatilhos em todos os lugares. Não sufocar e deixar claro para o indivíduo que ele tem o controle da situação é fundamental num momento como esse.
O erro de todos nós hoje em dia, é achar que somos o suficiente para resolver o problema dos outros.
Isabela
Você traz uma visão interessante sobre o assunto. Confesso que vi a campanha e não entendi do que se tratava, talvez por minha timeline ter sido tomada por pessoas dispostas a dizerem algo de bom que viam em quem comentasse o post e não se dispondo a ouvir os problemas de outras pessoas. Inicialmente pensei “mas uma boa conversa pode alegrar um dia, às vezes a palavra certa simplesmente vem de quem não esperamos” e acho que isso é verdade, mas há casos em que precisamos de muito mais do que isso, precisamos de pessoas que saibam o que estão fazendo e para isso é preciso estudar, é preciso de um profissional. No fim, concordo com você e, é uma pena que às vezes a boa intenção acabe por banalizar algo tão sério.
jadeafranco
IsabelaOi Isabela, tudo bem?
Existe uma diferença muito grande entre uma conversa quando você está triste e quando você sofre de um transtorno mental recorrente ou está no meio de um rompante. Amigos para conversar e conselhar nas boas e velhas bad é ótimo, não tiro o mérito disso, mas a depressão é uma doença em que muitos momentos a pessoa vai estar se sentindo vazia, ruim, agoniada, e ela não vai saber porquê, e não saber vai colocá-la em desespero. O que alguém que não tem qualquer treinamento vai falar? “Vai passar, respira, relaxa, não é nada?”.
Isso só piora. Só diminui. Sem contar que, a pessoa está mal, resolve ir conversar com alguém, essa pessoa acaba sendo dragada e fica ruim junto, e aí? Ou fala algo que acaba sendo o estopim para a outra pessoa tentar se matar? Ou e se a pessoa não estiver disponível para atendê-la naquele momento?
É muito delicado.
A intenção é boa, mas infelizmente não é só de boa intenção que se resolve isso.
Nicolle Por Deus
“Pode parecer bobo, mas às vezes ficamos num estado que o simples fato de ir procurar ajuda nos enche de medo. Mesmo que seja aquele médico que foi treinado pra nos atender, a gente fica apavorado achando que ele vai, de alguma forma, nos julgar.”
É exatamente isso. Meus pais e mesmo alguns amigos não entendem porque baralhos eu não procuro um psicólogo, sendo que tentei duas vezes. As duas foram experiências péssimas. A primeira sequer atendia meus telefonemas pra agendar uma consulta, e quando finalmente marcamos… well, ela não estava mais no consultório. Esqueceu. A segunda pedia pra eu sempre ligar depois, porque ela tava ocupada. Foram duas idas à sede do plano de saúde (eles que te direcionam ao profissional) e tudo o que eu mais temo é que a terceira tentativa seja tão frustrante quanto as anteriores. Fica esse peso me prendendo onde estou, esse receio de ver mais um episódio chato se repetindo — justo um episódio em que eu tento, de alguma forma, sair desse canto.
Também achei, inicialmente, a ideia incrível e considerei publicar a mesma coisa em meu feed. Quer conversar? Estou aqui. Mas parei, pensei e concluí que: eu não vou ter capacidade psicológica nenhuma de amparar alguém desse jeito. O medo de bagunçar ainda mais a cabeça do outro foi maior do que qualquer outra coisa.
jadeafranco
Nicolle Por DeusNicolle, se pra achar um profissional adequado já é um sacrifício, imagina como é conversar com estranhos não?
Eu mesma já passei por algumas dezenas de psicólogos. A maioria bem frustrante, despreparada, ou que simplesmente não me “convencia”. Quando você já conhece bem a sua situação e a sua cabeça, alguns papos de psicólogo simplesmente não colam, pelo menos eu sentia que eles estavam subestimando minha inteligência.
Psicólogo é identificação. Eu só me senti acolhida por uma. A que hoje eu frequento eu tenho medo. Sério, morro de medo dela. Ela é a pessoa mais calma, educada e fofa do mundo, mas ela sabe exatamente como conduzir a conversa para tocar naquela ferida que te faz encolher na cadeira e querer se esconder num cantinho. É assustador.
Não desista de procurar uma, uma hora você acha.