Não é atoa que Jornalismo leva o prefixo de Comunicação Social. Antes de qualquer coisa, aprendemos a nos comunicar, mesmo que pareça bobo para vocês que devem estar pensando ‘pff… sei me comunicar desde que nasci’. É um pouco mais complexo que isso. Senta que lá vem história.
Mas já divaguei sobre isso e um pouco mais neste post aqui. O que venho escrever hoje é um desabafo que aconteceu comigo e minha parceira (hey Dorota! <3) e que nos desanimou e chateou profundamente.
Comecei esse texto falando sobre comunicação exatamente porque a situação ocorreu por causa de uma falha de comunicação. Entendam, eu aprendi todos os trejeitos de comunicar, mas nossas fontes – aquelas que entrevistamos para as matérias e tals – não.
Um belo dia fomos fazer uma entrevista para o jornal laboratório da faculdade, chegamos e fomos super bem recebidas. Tiramos muitas fotos, acompanhamos uma aula e fizemos uma entrevista que durou quase uma hora, mesmo que as perguntas fossem poucas.
Uma fonte que fala mais que uma frase mediante uma pergunta é o sonho de todo jornalista, estávamos realizadas. Tínhamos muito mais material do que esperávamos, 45 minutos de áudio gravado, afinal, queríamos ser estritamente fieis ao que nosso entrevistado disse.
Nas próximas três horas sentamos, uma do lado da outra, na redação e começamos a matéria. Estava fluindo muito bem e conseguimos dentro do prazo os cinco mil caracteres necessários. Quando entregamos para nosso editor, nossa, a alegria foi dez vezes maior. Ele pediu apenas uma pequena alteração no lead – primeiro parágrafo da matéria que costuma conter as seis perguntas fundamentais do jornalismo -, as outras três páginas estavam intactas.
Fizemo-as e fomos liberadas. Ouso dizer que passamos o fim de semana seguinte com a mente limpa e o corpo leve. Era o último grande trabalho do curso até as tão desejadas férias. Tudo que precisávamos era voltar na terça e diagramar para tirar o print e rolar a correção geral ft. ringue para decidir qual reportagem ia para a capa.
Resolvemos a diagramação rapidamente, apesar de o programa extremamente ultrapassado ter travado horrores até nos deixar trabalhar. Novamente, tudo foi decidido e não podíamos estar mais orgulhosas do nosso bebê. Certo? Errado.
Naquela mesma semana a Dora me gritou no whatsapp, falou que era urgente e perguntou se eu podia escutar áudio. Não estava realmente livre, era final de expediente e uma confraternização da agência, mas pedi para que ela enviasse. Enquanto ela tirava umas fotos, coloquei meus fones.
Aconteceu que, como é o hábito de enviarmos o PDF da reportagem para a fonte, a mesma ligou e passou dez minutos cuspindo grosseirias na cabeça da minha amiga. Sabem porquê? Porque usamos o que ele falou de maneira extremamente fiel.
Entendam, nosso entrevistado não teve papas na língua. Expos situações e números que geravam uma certa polêmica e quando viu o que tinha dito ali na matéria, talvez tenha tomado consciência.
Mas o cara não havia contado nada em off, ou sequer pedido para omitir detalhes (como muitas fontes minhas já pediram e eu, por ética, acabei perdendo grandes reportagens!). Ele ligou e reclamou horrores sobre como o que ele tinha dito poderia ser mal interpretado se não fosse lido na íntegra e a Dora “olha, meio que a intenção é que seja lido na íntegra”.
De acordo com a minha fonte, ele estava extremamente irritado e sendo super grosso, jogando por terra toda aquela visão maravilhada que tínhamos construído do lugar. Falava como se fossemos incompetentes e sentisse desprezo das acadêmicas burras, sabe?
Isso destruiu meu dia. Isso destruiu o dia da Dora por ter sido ela a receber o telefonema, e eu realmente preferia que tivesse sido eu, pois eu não deixaria ninguém pisar em mim ou ser estúpido. Só temos certeza de que não alteramos uma vírgula da matéria (e nem tinha como, já que a edição já havia sido fechada e enviada para a gráfica), ficamos super decepcionadas a ponto de sequer querer voltar no lugar para entregar algumas edições e que jamais usaremos o lugar de fonte novamente.
Ah, e também que o teatro de Campo Grande é feito por adolescentes.
Isa-Dora Leiria
Assinando embaixo desse seu post. Essa foi a primeira vez que algo assim nos aconteceu, e infelizmente não será a última. Enfatizando o que você disse, nós usamos as palavras literais do nosso entrevistado e depois ele se doeu porque falou coisas "pesadas" demais. Eu poderia listar adjetivos para essa atitude, mas vou me conter. Mamãe me deu educação.
Agora aprendemos uma lição né Zade? A de que nem todas as fontes simpáticas são as mais honestas depois do nosso trabalho feito.
E ah, são mal pagas. Literalmente.
Jade Amorim
Isa-Dora LeiriaVem cá, me dá um abraço! Passou baby, passou. <3
Babi F.
Trabalho em assessoria, mas como social media, e vejo DIRETO as fontes requisitando a matéria antes de serem publicadas e os assessores são categóricos: "não podemos interferir no trabalho dos jornalistas, por favor, responda de acordo com o seu conhecimento". Por essas e outras, procurem sempre por fontes que tenham mediadores. É a melhor forma de se prevenir de fontes que não passam por media training e essa caralhada toda (desculpa o palavrão), mas faz toda diferença. Aliás, respeito é bom e todo mundo agradece. Então, sintam-se felizes pelo ótimo trabalho isso sim. Vocês ainda foram boazinhas com essx infeliz. 😡
Jade Amorim
Babi F.Babi, de fato esse nosso entrevistado não passou por media training, mas a gente tava super be happy querendo divulgar o trabalho do pessoal. Foi muito cilada. 🙁
Cah Martins
Eu não entendo muita coisa de jornalismo, mas essa é a primeira vez que vejo algo relatando que um entrevistado reclamou do jornalista ser fiel ao que ele falou.
Já vi inúmeras reclamações sobre como o jornalista alterou totalmente o que você quis dizer, retirando o contexto da declaração e tudo mais (caso da Sandy e o sexo anal – matéria polêmica da playboy – é o ápice das reclamações). Mas o oposto?
Acho mesmo é que você tem que relaxar, porque está claro que esse entrevistado falou o que não devia e agora quer descontar em vocês!
Blog Subexplicado
Jade Amorim
Cah MartinsExatamente, Cah. Não é realmente muito usual, mas super acontece! Eles não tomam consciência, sabe? :/
Bianca
Nossa, a pessoa fala as coisas sem pensar, depois se arrepende e a culpa é de vocês? Imagino como vocês devem estar se sentindo 🙁
Beijos
Jade Amorim
BiancaPois é, não foi nada fácil! 🙁
Jessica M
Poxa! Eu adoro saber um pouco do universo de alguns profissionais, mas sempre que me vem jornalismo na cabeça, penso o quão deve ser difícil.
Eu imaginava situações assim, mas não imaginava que pudesse acontecer algo do tipo, o cara não quer que publique o diz, mas não se importa em não explicar o que não quer que seja dito.
Complicado, hein!
Apesar de tudo, vocês mostraram ter ética e ainda foram maleáveis. Parabéns!
Beijos!
Jade Amorim
Jessica MJessica, ser jornalista é fácil não, viu! Lidar com pessoas, de uma maneira geral, é complicado. :/
Camila
Que situação chata e entendo porque ficou tão mal com isso!!
Jornalismo não é fácil ne Jade?
Estranho… a pessoa devia ter consciência do que fala ne?
Jade Amorim
CamilaSim, deveria. Mas as pessoas deveriam ter consciência de tanta coisa que não tem…
Raíssa França
Vida de jornalista! Eu também faço jornalismo e já passei cada situação! Sempre digo que se um dia, eu for bem sucedida, irei contar o que passei e as barreiras que precisei enfrentar. Não é fácil, mas infelizmente ainda vamos nos deparar com situações piores lá na frente. Boa sorte no curso! :*
Jade Amorim
Raíssa FrançaÉ uma profissão ingrata, né? Mas acontece, e a gente vai sobreviver. rs
Dayane Pereira
Que situação hein! Engraçado, vocês fazem a coisa certa e ainda saem como as erradas da história. O cara acha que vocês são videntes? Como saber que ele não queria que publicassem tudo? Eu prefiro quando o jornalismo não tenta me enganar, quando é fiel à fonte mas neste meio as coisas funcionam um pouco diferentes mesmo. Infelizmente.
Espero que isso não prejudique o trabalho de vocês.
Jade Amorim
Dayane PereiraNão há de prejudicar. É uma coisa que acontece, ser honesto e falar a verdade nem sempre é o conveniente para a pessoa. :/
Marcella Beato
Que difícil, meu Deus. Jornalismo deve ser difícil, se você omite é errada mas se expõe demais é errada também, sempre sobra pra quem entrevista, quem edita e quem publica. Um saco né? Eu tô amando seu blog pois penso em cursar comunicação social, sucesso!
Um beijo, Blog Marcella Beato
Jade Amorim
Marcella BeatoSão ossos do ofício, Marcela. Com o tempo a gente aprende a lidar bem com isso! 🙂
Beijos.
Carol Caniato
Sou formada em jornalismo e confesso que nunca isso aconteceu comigo, haha! Geralmente é o contrário, né? Na verdade, fiquei pensando que isso pode ser coisa de fonte inexperiente também. Porque tem pessoas que já estão tão acostumadas a dar entrevistas, que elas já tem ideia do que é melhor dizer. Não necessariamente porque a pessoa disse tudo bonito e não reclamou, ela está sendo fiel a própria informação que deu. Enfim, é sempre complexo!
Adorei o blog!
Beijo!
Jade Amorim
Carol CaniatoMenina, que sorte! Mas de fato, Carol, foi inexperiência do cara para dar declarações à imprensa. Acontece, né, fazer o quê.
Alexandre Lucio Fernandes
Falha de comunicação é algo tenso. Nesses casos a pessoa acaba tendo consciência de não ter tido, mas a inconsciência faz ela jogar a culpa nos outros, como uma fuga. Pessoas grosseiras são assim. Elas nunca sentem que são, porque o Ego sobrepuja seus traços de caráter.
Gostei daqui.
Beijo!
Alexandre Lucio Fernandes
Alexandre Lucio Fernandeserrata: *consciência de não ter tido a comunicação devida (te avisar sobre o que restringir ou não)
Jade Amorim
Alexandre Lucio FernandesAssino embaixo, Alexandre. Obrigada pela visita, volte sempre! 🙂