Chegou fazendo piada, a voz esganiçada e rindo. Tinha porte bom, o corpo corpulento de alguém que foi atlético no passado. Vinha acompanhado da mulher, uma figura diminuta e de olhar dominante.
Por mais que risse das próprias piadas, os olhos azuis encobertos por grossas sobrancelhas levemente grisalhas estavam sérios e cautelosos. Discretamente ele escaneou cada um de nós como um cordeiro que analisa o predador a procura da melhor maneira de escapar.
Seu nervosismo era tão perceptível quanto o vento frio que sacudia as janelas, as mãos não paravam quietas e os pés alternavam de posição constantemente. Parecia querer responder tudo de maneira extremamente correta e formava uma linha rígida com os lábios enquanto formulava as respostas para questões mais contundentes e invasivas. Muitas vezes pediu a opinião da esposa e apresentou-se temeroso à reação da mesma ao dizer algo, esposa essa que vez ou outra intrometia-se na coletiva.
Demonstrava domínio sobre sua arte, suas influências e sua vontade de influenciar. Parecia ter uma relação complicada referente ao dinheiro, explicando que a arte no estado ainda é pouco valorizada, é preciso correr atrás.
Mas o que ele poderia fazer? Aos 57 anos, Adilson Schieffer assumiu com um riso nervoso “faz parte da minha vida, não sei fazer muitas coisas além disso”.
Raíssa França
Adorei seu texto! Beijos flor.
Jade Amorim
Raíssa FrançaQue bom que gostou, Raíssa. Fico muito feliz pela visita! 🙂