7.
A porta cedeu como a laje de uma sepultura, com um rangido brusco, exalando o ar fétido e viciado do interior. Volutas de sujeira e pó coroavam os ângulos do teto, enquanto a tênue claridade que deles procedeu mal conseguia arranhar as sombras.
Catherine estava aninhada em seus braços como o frágil anjo de vidro que demonstrava ser e, por um pequeno instante, conseguiu fazê-lo vacilar de sua decisão. Já não chorava, contudo ainda tinha manchas de sangue no rosto, vergões na pele translúcida e tremia vez ou outra.
Ele empurrou a porta com o pé e a fez fechar num estrondo seco. Nenhum dos dois falava e pareciam querer continuar assim. Adrian a depositou na cama e foi buscar uma toalha seca. Entregou-a e, antes de se afastar, a moça segurou sua mão de leve, murmurando um obrigada.
O ruivo grunhiu e se afastou dela como se fosse uma doença altamente contagiosa. Balançando a cabeça bruscamente e fazendo com que vários cristais de água se espalhassem pelo cômodo. A passos rápidos foi para a cozinha onde, com os olhos vidrados, sentou-se e abaixou a cabeça.
Não sabia o que estava fazendo, não sabia o que pretendia fazer. Trouxera-a para sua própria casa de uma forma quase irracional, os passos fazendo o caminho automaticamente enquanto estava mais focado nas sensações que o corpo abraçado ao seu lhe trazia.
Ele a queria, o monstro que ainda rugia dentro dele a queria, mas alguma coisa ainda o brecava de fazer o que planejara por tantas semanas. Talvez fosse o fato dela estar sentada sobre sua cama, com sua toalha na mão, mas não com a expressão apavorada ou luxuriosa com que todas as outras o fizeram. O que via quando a olhava ela uma tranquilidade inocente e cheia de gratidão. Ela confiava nele. E Adrian, que nunca tivera alguém que confiasse nele, não sabia como agir.
Contudo, o que mais podia esperar? Que isso durasse para sempre? Não, não. Nada dura para sempre, muito menos as coisas boas.
Ergueu a cabeça com o olhar duro e determinado. Respirou fundo pela milionésima vez desde que aquele dia começou e levantou-se, indo pegar a adaga que mantinha na ultima prateleira de um armário embutido. O objeto era especial e valioso, era uma das únicas coisas que guardava como lembrança da família e o ruivo guardava-o com um cuidado quase divino.
Nada melhor do que algo de tamanho valor para macular seu anjo.
8.
“Você realmente quer?
Você realmente me quer?
Você realmente me quer morto ou vivo
Para me torturar pelos meus pecados?”
Tremeu. Toda a sua determinação estava sendo posta à prova. Parecia tão jovem e imaculada que quase o fazia se esquecer do que sofrera uma hora antes se não fosse aquele corte no canto do lábio para lembra-lo constantemente.
Sentou-se na poltrona ruidosamente, apoiando o cotovelo nos joelhos e brincando com a arma nas mãos. Ela virou o rosto em sua direção e sorriu de leve. O vermelho encantador lhe tingia as bochechas, dando-a um ar mais jovem do que já possuía.
Abriu a boca por diversas vezes, mas nada conseguiu compor. Sentia-se cansada e dolorida, e não conteve o bocejo.
– Adrian… – começou pelo nome, pronunciando devagar, tentando ao máximo não gaguejar. – Eu queria agradecer por ter me salvado…
– Não agradeça. – cortou-a, ríspido. – Eu não a salvei.
Ela franziu o cenho, com a expressão dizendo nitidamente que achava o contrário. Começou a indaga-lo novamente, mas se interrompeu com um longo bocejo que a fez sorrir constrangida.
– Eu vou te matar, Catherine. – sussurrou como se explicasse uma difícil verdade a uma criança. Ela arregalou os olhos, assustada com a força da pronunciação, mas logo sorriu, triste.
– Então mate.
Foi a vez de Adrian franzir o cenho diante da expressão amargurada dela.
– Mate logo, só não faça doer muito. Certamente será melhor do que ser entregue a um magnata gordo e inescrupuloso pelo próprio pai, por que a própria filha é inútil e fraca demais para cuidar dos negócios da família.
Arqueou uma sobrancelha enquanto absorvia a informação, que o levou a resposta para uma indagação anteriormente ignorada. Por que ela estava na rua uma hora daquelas?
– Não me diga que…
– Não estava indo me matar – ela adivinhou a pergunta antes dele concluí-la. – Só queria me afastar tempo o suficiente para me acalmar. – Suspirou. – Venha cá.
Ele se levantou mais por curiosidade do que por obediência, sentando a pouco menos de um metro dela na cama, com a adaga cuidadosamente atrás de si. Ela esticou os braços, tocando em seu tórax e começou a subir, refazendo o desenho daquele rosto já conhecido. e olhou para a morena encolhida e tremendo.
– Em minhas duas décadas de existência, este é o rosto mais bonito que tive sob meus dedos – ela sorriu ternamente, deixando-o perturbado.
Desenhava-lhe os lábios com calma, saboreando-os. Num gesto lento aproximou o próprio rosto e roçou seus lábios nos dele, num beijo casto e simples.
– Não me importo de morrer pelas suas mãos.
Ele pressionou a mandíbula e suspirou derrotado. Não iria conseguir, nem mesmo se quisesse, destruí-la. Os papeis haviam se invertido, e agora ela o tinha nas mãos. Num movimento exagerado puxou-a pelos ombros e a abraçou. A adaga, com o movimento, caiu no chão num tilintar irritante.
Ficaram ali por alguns minutos, presos aos próprios pensamentos. Adrian foi quem afastou-a e lhe dissolveu um beijo na testa, acarinhando a bochecha com o indicador.
– Durma, deve estar cansada.
– Você ainda vai me matar? – perguntou baixinho, enquanto ele a ajeitava na cama.
– Nem o inferno me aceitaria se destruísse um anjo como você. – Ela riu, amarga. – Te levarei para casa pela manhã.
Catherine abraçou o travesseiro antes de responder, com a voz já sonolenta:
– Não quero voltar para lá. Quero ficar aqui.
Ele suspirou, não podia mantê-la na situação precária que vivia nos últimos anos. E se quisesse tê-la por perto, teria que tomar uma decisão que protelara anos a fio, reivindicar o império que era seu por direito. Olhou para garota recém adormecida e teve certeza que valia a pena. Num sorriso tranquilo beijou-lhe os cabelos.
– Durma – ele sussurrou ao pé do ouvido. – Eu vou cuidar de tudo amanhã.
Levantou-se da cama rindo indignado com a adaga na mão, que levaria de volta a seu lugar na prateleira. Um demônio o havia afastado de casa e agora um anjo o levaria de volta. Quanta ironia a do destino.
HONORATO, Sandro
Jade 🙂
Como vai?
Adorei a história *–*
Muito bem escrita :p
E essa citação de "Hurricane",ficou show :p
Beijos e tenha um excelente final de semana
RIMAS DO PRETO
Erica Ferro
Adorei, Jade! Eu queria mais, claro, mas… o que se há de fazer? O conto que tinha que ter um ponto final, não é?
Você escreve superbem, Jade. Tem o dom de inventar estórias. Parabéns!
Beijo!
Sacudindo Palavras
Jeniffer Yara
Que belo final Jade! Amei amei amei a estória, como a Erica disse, você escreve MUITO bem *_* Afo, invejinha do seu tom de narração! rs
Sobre seu comentário por lá, pressiona pelo Twitter a Novo Conceito Jade, eles sempre respondem por lá >< E antes a Novo Século não tinha essa de 1000 seguidores –' Sorte que quando eu entrei em contato com eles, eu já tinha esses mil seguidores, não sabia D: rs
Sobre o projeto, vamos agilizar tudo sim, vou mandar mensagem via facebook pra Anne pra ela me enviar pelos Correios o livro, mais fácil :/ rs Espero que ela concorde!
AHHH, a agenda *___* Já escolhi o livro da sua estante, é Liberte meu coração <3 Quando puder, me avisa pra eu te enviar meu endereço completo por e-mail pra você enviar os dois <3
Eu tô com problemas de envio de livros, os Correios daqui parece que não aceita 'Impresso normal com registro módico' — Ou seja, tô tendo que pagar caro via PAC, mas vou tentar resolver isso, assim, as trocas dos livros do projeto, podem acelerar mais ><
Beijos
Aline - Princesa Nerd
Que legal esse conto! *-*
Eu acabei de conhecer seu blog, vou ler desde o inicio esse conto!
Você parece ser bem criativa, acho que vou adorar ser sua leitora aqui do blog. ^^
Beijinhos!
http://www.pensamentosda-aline.blogspot.com.br/
Thábata Bauer
Amei o conto *-* Beijos, http://www.thingsofadreamer.blogspot.com
Simplesmente (P.)
Vou ler tudinho, ao contrario para variar eu e minha mania de ler as coisas do fim para o inicio…
Que bom que gostou da música da Alanis, é muito eu também! rsrsr
Beijinhos bom congresso para vc!
Pri.
http://www.metamorfoseparalela.com.br/
Luara Cardoso
Você escreve tão bem! Parabéns!
E invista nisso, viu? Tem futuro. 🙂
Um beijo,
Luara – Estante Vertical
Lu Rosário
Foi um bom desfecho!
Espero para ler outras historias suas..
…Beijos.
Amanda Cristine
Você escreve tão bem, Jade.
Esse foi um final tão incrível, tão bonito.
Eu amei, mesmo. Quando tiver tempo, pensa em escrever outra fan-fic? kk, seria adorável!
beijo.
Amanda – Doce Diário
Juliana
Eu sempre tive um carinho especial por jornalismo e admiro muito todas as pessoas que escolhem essa profissão. Não é bem remunerada e em um pouco fácil, além de depender muito da inspiração que pode as vezes ser tão volátil! Acho que fez uma ótima escolha, essa área se adequa perfeitamente a você Jade! Seria até um crime se você não usufruísse desse seu dom nato, hahahaha. Sou fanzonha sua!
Beijo, Ju <3