Ele tinha aquele jeito de quem não sabe muito bem o que vai fazer da vida. Vivia um dia de cada vez como quem não tem pressa e nem compromissos. Se o visse usando algo que não fosse bermuda e chinelo, era algo sério. Mas nunca, em hipótese alguma, um emprego.
Não, ele não aceitava ir trabalhar onde era obrigado a usar o que não queria e na hora em que queria. Acho que era por isso que era bicho solto na praia, um plâncton no mar vasto que acha que a areia é o seu lugar, apenas porque todos diziam que não o era.
Ressabiado era aquele tipo que se calava, saia de perto e ia pensar. Depois voltava sério, falava meia dúzia de palavras e antes que você pudesse dar a resposta já estava rindo de algo inútil que acabara de dizer.
“Não se pode perder tempo com coisas que te preocupam.”
Era o que ele dizia.
“Devem ser resolvidas da maneira mais simples possível e simplesmente esquecidas como se jamais houvessem estado lá.”
Eu que era neurótica e descabelada, sempre correndo de um canto pro outro tentando resolver as incumbências da vida, não sabia se ficava irritada por vê-lo sempre caminhando na orla tranquilamente ou se invejava-o mortalmente.
Não conseguia entender como um homem agia alheio ao tempo e ao espaço. Ele era brilhante, um gênio. Talvez, apenas mais um louco. Só sei que não bastou mais do que duas dúzias de vezes para que ele me notasse correndo de um lado para o outro como a atarefada que eu era, nem meia dúzia de vezes para que risse da minha cara sempre que o celular tocava e eu, achando-me uma possível equilibrista, tentava atender, carregar os livros com uma mão e correr ao mesmo tempo.
Mas bastou apenas uma vez que os livros caíssem no chão para que ele se aproximasse e me ajudasse a recolhê-los. Ao fim, com aquele ar relaxado, ele sorria e dizia:
“Mais devagar, seus compromissos não estão correndo de você, quando você chegar eles ainda estarão lá te esperando para resolvê-los.”
E eu sorria, sem graça. Encantada por um estranho que levava quase tudo na brincadeira e parecia ter a vida mais mansa do mundo. Ele sorria e eu me revirava por dentro, achando que ele não tinha sequer o direito de opinar na minha vida.
Agradeci rapidamente e sai andando até o ponto de ônibus, tentando levar em consideração o que ele havia dito, indo com calma.
“Ei, mas o ônibus não espera, ok? Na próxima vez acorda mais cedo!”
Olhei em direção ao ponto e vi o meu ônibus se afastar. Gritei exasperada, joguei os livros no chão e me sentei ali no calçadão. Olhei pro senhor eu-não-tenho-nada-pra-fazer e comecei a rir. Ele sorriu e veio sentar ao meu lado. Em poucos minutos descobri que ele era brilhante, um gênio, ou apenas um louco. Talvez tudo isso junto.
Há séculos eu não conseguia escrever algo assim. Não sentia aquela sensação gostosa que se sente quando uma frase vem na cabeça, você digita ela e o resto sai automaticamente, você não saber o que vai escrever até escrever. Particularmente, gostei. Espero que tenham gostado. Domingo tem surpresa hein!
Natalia
Gostei do texto, fiquei imaginando a cena todinha!
Eu adoro quando isso acontece também, de a história ir surgindo enquanto os dedos vão escrevendo!
Evelyne
Sabe que eu adoro gente assim? Sou assim também. Desculpa citar Zeca Pagodinho nos seus comentários, mas é isso mesmo: deixo-a-vida-me-levar-vida-leva-eu.
A pena é que o mundo não dá valor a gente assim.
As pessoas têm que mudar o que são e domar sua própria personalidade. Porque o mundo é assim. As coisas são assim. A vida não é nada fácil. =/
Ou pelo menos fizeram parecer que as coisas são assim.
Déborah-alana
Jade adorei o que escreveu, ficou muito bom! Para mim achei um brilhante gênio, mas com um pouco de loucura, pois hoje é difícil conseguir viver assim, de forma simples, tranquila e sem pressa para resolver os problemas! Adorei o texto e ansiosa para a surpresa de domingo :* beijão amiga
CARLA WOLF
Adorei o texto,queria ter uma vida calma e tranquila
wolftheideia.blogspot.com
cliquesluks
Nossa adorei o seu texto, tão bom de se ler que até relaxei com a tranquilidade do personagem. Parabéns!
Beijos! ^^
Beatrix
Uma delicia de se ler, que ficou ainda maior depois de ver que vc teve um grande prazer ao escrever esse post.
Sinto falta dessa sensação sabe. De liberadade, de fluidez!
Jade, o livro é muito bacana mesmo e acabei lendo-o por ouro acaso na epoca em que trabalhei em uma livraria. Indico!
E… tem receita lá no Extômago!!! =)
Bjos e bom fim de semana.
Fran Carneiro
Eu adorei ler esse conto!
Gostei muito dos personagens serem opostos… E espero que "ela" aprenda muito com a temperança dele.
Yuu
É um texto para refletir. Eu acho que deve existir um equilíbrio entre se preocupar demais e não se preocupar. Viver com pressa ou viver com calma. Podemos ser brilhantes, gênios e loucos ao mesmo tempo, com a dosagem certa. 🙂
Beijos.
Lu Rosário
Gostei do texto, colocou-me em ponto de reflexão.
Gostei do post anterior também, indico as leituras de Todorov e Lovecraft.
Beijos!
Ju Lemos
Sabe de uma coisa Jade?! Acho que todos poderiamos levar a vida assim, sem pressa, sem hora porque certamente nossos compromissos, de fato, estarão lá. Porém, a vida de certa forma cobra e pressiona para que corremos ou seremos levados, empurrados e cairemos por quem vem atrás de nós sem se importar se iremos quebrar o nariz. Como se fosse um mar de "ou vai anda ou passo por cima". Confesso que sempre uma pessoa mais afoita e nunca deixei nada para depois, mas vi que isso de nada adiantava ou mudava as coisas da forma que eu queria… Então, melhor me tornar mais zen e agir exatamente assim: talvez, uma louca, porque quem sabe um dia – talvez – a genialidade e o brilhantismo resolvem bater a minha porta sem eu ter que correr tanto atrás deles.
òtimo texto!
Bárbara Auerbach
Esses textos mais soltos cheio de sentimentos, sem previsão de um final são os que transbordam emoções. Acho que esse é o segredo pra escrever com VIDA! HAHAHA
Adorei o post!
Bjo
Sammy
Já fiquei curiosa com o domingo XD. Enfim, sou fã dos seus texto Jade, tão profundos, e sabe eu queria ser como esse rapaz, ser mais calma com a vida, mas acabo sempre agindo como a moça, no pulso de resolver tudo. Ah, então temos gosto bem parecidos em relação aos animes e cartoons *-*
Mas é, saudade da Manchete e daquele tempo, em que anime era muito mais que uma moda, onde se parava para acompanhar e se aventurar nesse mundo, sabe, hoje, não sei se pela idade, ou por que fiquei chata, mas prefiro ler os mangás a ver os animes, antigamente até dava gosto de ver dublado os animes, hoje em dia não. Mas a gente vai lembrando e matando um pouquinha a saudade *-*
Bjs
daimaginacaoaescrita.blogspot.com
Jeniffer Yara
E esse garoto que vive tranquilamente, é totalmente meu oposto, tenho amigos assim e até hoje não consigo entender como a amizade dura com uma pessoa tão diferente, mas enfim, lindo texto Jade, e eu sei bem como é isso de vir uma frase na cabeça e o resto sair automaticamente, quando isso acontece comigo saem textos que são até bem elogiados, então amo essa sensação <3
E o seu, é lindo *-*
Ahhh, vou esperar ansiosa pela agenda *O* rs
Beijos
♥ Luciana de Mira ♥
QUe conto adorável de se ler! Adorei! Parabens!
Beijos